domingo, 31 de outubro de 2010

Excesso.

Está tudo em excesso. Estranho, porque geralmente falta, mais agora não...agora há muito.
Há felicidade demais,
Confusão demais,
Dúvidas intermináveis,
Medos recorrentes,
Expectativas além das desejáveis,
Incompreensões,
Decepções.

O tempo resolveu não ser muito camarada comigo e acho que a vida está tentando me dar uma rasteira...
Nada acontecia. Só silêncio e monotonia. Àquilo não era vida. Alheia a tudo e a todos. Neutra. Servindo apenas para julgar. Sorriso? Este era raro. Amor? Este tava guardado numa caixa, bem lá no fundo do coração. Desprezo? Este esteve presente por um tempo na face. Aventura? Esta estava dentro de um copo chamativo como um veneno tentador. (...)
Não, não tava ruim, mas também não estava bom. Até a reviravolta. Quando assim, de uma hora para outra, tudo o que não acontecia, resolveu acontecer. Acho que tudo partiu da decisão inicial que consistia simplesmente em ser feliz. Sim. Ser feliz, sem restrições ou preocupações. Sem medo de abrir um largo sorriso contagiante. Sem medo das pessoas. Feliz apenas. Isso bastou para que as coisas tomassem um rumo contraditório.
Creio que o excesso de felicidade não fez muito bem. Contagiou uns e, propiciou uma harmonia agradável.  Abriu um leque de possibilidades e horizontes que vão além do que a monotonia poderia me mostrar. Mais...não, na verdade não sei, mas...acho q ofuscou alguém, ou algo. Ou melhor, uma sombra negra tentou ofuscar o amarelo feliz que me envolvia e isso causou atrito, confusões, problemas. Muitos.
Agora já não sei mais. Quero essa onda de alegria em minha vida, mas sem todas essas confusões. Sem todas essas dúvidas. Como se não bastasse, adoeci. Sim, acho que aquele vírus me pegou. Pegou-me em meio à felicidade e autoconfiança. Deixou-me frágil demais para lidar com toda a situação.  O médico até que me recomendou um remédio bom, mas causa dependência. Intoxiquei-me para tentar eliminar o vírus e resolver os problemas, mas o efeito foi contrário. O organismo pede mais da maldita droga e me impede de tentar controlar a felicidade que não esta sintonizada a esta situação. Não sei mais o que fazer...exagerar na droga e permanecer naquele estado feliz, porém anestesiada, ou esquecer que existe um vírus me consumindo e focar apenas nos problemas alheios...?

Há muita preocupação, medo e felicidade ocupando um só organismo... Já posso ver a explosão disso tudo...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Grito de liberdade.

O espelho grande e límpido fora colocado.
A realidade, agora, seria inevitável.
A incerteza do futuro, ou do passado,
tornara o presente além do inefável.

Entretanto, as escolhas preponderadas,
e o sorriso adiado,
Delataram a alma condenada,
Que se mantinha presa a um caco quebrado.

Mas, entre espelhos e cacos,
O grito de liberdade ecoa,
A esperança brota de profundos buracos
E o sol volta a brilhar, assim, à toa!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Tentativa.


Encontrei um par de asas velho e abandonado...
até pensei em seguir fingindo não o ver,
mas a cautela não fora nem um pouco tentadora
quanto a adrenalina que já consumira meu sangue.
Ahh sim, mais uma vez eu o colocaria e me arriscaria.
Agora sem pensar, seguindo o instinto apenas, e
dessa vez, tentaria de um penhasco mais alto.
Na melhor das hipóteses,
sentiria a liberdade dentro de mim e enfim, respiraria.
mas, se aquelas asas falhassem, e
a sorte pairasse por alí...flutuaria eternamente.
se não,
no máximo marcaria meu corpo com mais algumas cicatrizes.
Quem sabe até mais profundas.




segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Coleção.


"Não ela não era tola. Mas como quem não desiste de anjos, fadas, cegonhas com bebês, ilhas gregas e happy-end’s cinderelescos, ela queria acreditar. Até a noite súbita em que não conseguiu mais." Caio F. Abreu


Como sempre ele chegara com o mesmo tom de cobrança:
-  E então? Está tudo pronto? Está tudo feito?
Mas desta vez a resposta o surpreendeu.
-  Não! Dizia ela naturalmente, como se todos já esperassem isso.
-  Como não? Não estou te entendendo...
-  É, não está pronto, e nem vai ficar.
-  Olhe que agindo assim, você vai acabar deixando de ganhar aquelas belas estrelas prateadas e brilhantes que você gosta tanto. – Disse ele num tom ameaçador.
-   Já tenho muitas.
-   Sim...mas e sua coleção?
-   Acho que já não tenho mais potes para guardar tantas...
-   Mas isso é simples de... - E antes que ele terminasse de falar ela o interrompeu:
-   NÃO! Não é um problema a ser resolvido. É uma decisão precisa e certa.  Durante toda a minha vida fiz tudo para consegui-las. Escalei as mais altas montanhas para alcançá-las. Decifrei enigmas. Perdi-me. Sofri. Sangrei. Acreditei e venci. Mas, não acredito mais. Não acredito que todos estes potes cintilantes sejam o meu brilho. Não creio que neles contenha meu sacrifício. Não creio que eles guardem minha vitória ou felicidade...aliás... - Antes de terminar, a voz já precipitada e alterada impede:
-   Deixe de besteira e pare de pensar. Você deve apenas acreditar em mim. Colecionar as estrelas é o melhor pra você! Acredite.
A menina permaneceu em silêncio enquanto observava atentamente todos os potes repletos de brilho. Como se não tivesse a intenção de ser ouvida ela começou a falar pausadamente:
-   São poucas...
-   Como?
-   Olhe para estas estrelas...O que elas são perto da imensidão do céu?
Uma lágrima escapou de seu controle e o silencio permaneceu. E então ela continuou:
-   Diga-me, pois então, o que farei com todas estas estrelas se não puder ver o céu? Se não puder ver-las brilharem no céu?
Estarrecido com a pergunta, ele tentou argumentar algo, mas as palavras tremidas e gaguejadas não formaram qualquer sentido. Sem saber o que fazer, ele resolveu deixa-la. Antes que abrisse a porta ela disse:
-   Espere.
Surpreso, ele deu um passo para trás buscando ouvi-la.
-   Leve. Leve com você todos estes potes. Eu não precisarei mais deste brilho ofuscante. Um dia alcançarei o céu e viajarei livremente por entre as estrelas mais brilhantes. Eu serei uma delas...
Sem dar o mínimo crédito à convicção esperançosa da menina, ele saiu como se nada tivesse ouvido.
As conseqüências não tardariam...
Um profundo estado de torpor a abarcava e ela continuava trabalhando no seu processo de ruptura. Quebra de paradigmas. Interrupções de conveniências. Cancelamento. Uma mudança estrondosa estava por vir.
Não haveria mais coleções de estrelas brilhantes para alguém que começara a acreditar que o CÉU é o limite!