Você simplesmente se perde quando ultrapassa a linha do conhecido, e do compreensível. Quando a razão não explica o que você precisa e o sentimento é algo que você não sabe decifrar, você se perde. Você não pensa. E o que você sempre pensou, não é. Porque você NÃO pensa. Você não sente. A realidade não existe. O sonho não existe. E você, não é. Nada é.
Perdida numa escuridão sem tamanho. Num universo infinito e sem escolhas. Induzida e presa era como eu me sentia. Uma nevoa escura e densa pairava no ambiente. Parecia não haver oxigênio suficiente para suprir minha necessidade. Aqueles olhos negros e atentos eram como grilhões pesados que me mantinham ali.
Aquilo que sempre fora meu e extremamente intimo estava na iminência de ser descoberto. Queriam arrancar uma parte de mim de maneira cruel e subumana. Por forças que eu não compreendia, eu estava sendo forçada a dizer o que não queria. Ninguém nunca entendera, mas a situação não estava no meu controle. Uma hipnose estancava meu consciente, e eu falava sem ter qualquer noção do que se passava. Meus sentimentos e pensamentos já não me pertenciam.
Tive medo de me tornar um nada. Medo de não saber. Tive medo de me permitir a ser. Tive medo... A revolta e a inquietação inerentes do meu ser, já não estavam mais em mim. No lugar, havia o desespero e um sentimento de submissão. Nunca antes eu sentira isso. Uma enorme ferida sangrava incessantemente. Aquilo me consumia e exigia mais do que eu podia oferecer. A cada palavra proferida meus olhos se tornavam cada vez menores para comportar tantas lágrimas. E assim a visão tornara-se embaçada, e nem mais ver eu podia.
Enquanto eu tentava, sem sucesso, entender a desconfortável e inevitável situação, cavavam em mim um enorme vazio desesperador. Sentia meu corpo sendo despedaçado...e enquanto isso, encontrava forças para me recompor e falar. Desviava o meu olhar daqueles olhos que me machucavam e conseguia enfim respirar normalmente. Fitava as imperfeições do chão e tentava organizar as palavras em minha mente para enfim dizer... Para gritar aquilo que estava entalando em minha garganta.
Tudo estava errado. Tudo era injusto. Tudo me feria. O que me afetava, que me consumia, que me prejudicava....tudo, enfim, eu consegui falar.
Em algum momento me senti livre, porém pressionada. A escuridão permanecia, e eu ainda estava confusa. Eu já não queria entender tudo aquilo. Eu precisava falar. Precisava ser aquilo que costumava ser. Precisava descarregar. Sim, era só o que eu precisava.
Feito isso, eu não me conformava. Não me conformava com o fato de estar nadando contra uma maré de raças humanas, mantendo nas costas um peso muito maior do que o meu, e sendo criticada por todos os lados. Se era a perfeição que queriam de mim, ah, desculpe-me se não a alcancei. Desculpe-me se o meu real ser causa inveja ou preocupação. Desculpe-me se a minha boca vocês não foram capazes de calar.
Depois disso, as coisas não voltarão a ser como eram. Não sei que caminho estou seguindo. Não sei por qual caminho eu vim. Só sei que se aqueles olhos negros que me causaram tanto sofrimento fizeram parte de meu caminho, eu não quero nunca lembrar.
“Is there anybody out there who?
Is lost and hurt and lonely too?
Are they bleeding all your colours into one?
And if you come undone
As if you've been run through
Some catapult it fired you
You wonder if your chance'll ever come
Or if you're stuck in square one.” ♪
Is lost and hurt and lonely too?
Are they bleeding all your colours into one?
And if you come undone
As if you've been run through
Some catapult it fired you
You wonder if your chance'll ever come
Or if you're stuck in square one.” ♪